Florescem em abundância e sem
limites, um pouco, por todo o meu jardim. Crescem, principalmente, no alpendre,
apoiadas em postes ao longo de vigas transversais num trajecto de enquadramento
artístico. Emaranhadas em cachos de cores exuberantes, terminam nalguns ramos
pendentes que, por vezes, nos impedem a passagem.
Saturday, September 22, 2012
Friday, September 21, 2012
Thursday, September 20, 2012
O tempo
Eu quero apenas amar-te
lentamente
Como se todo o tempo fosse nosso
Como se todo o tempo fosse pouco
Como se nem sequer houvesse tempo
Como se todo o tempo fosse nosso
Como se todo o tempo fosse pouco
Como se nem sequer houvesse tempo
Joaquim Pessoa in O Pouco é Para Ontem - Litexa Editora, 2008
Wednesday, September 19, 2012
Plena de luz
Sem pressas,
recupero o caminho, furtando-me aos melodramas, pelo final da tarde. No lugar
certo, em contraste com a tensão dos dias, a passagem do tempo não tem fim à
vista. É lá que me desengano ofuscada por um sol que se perpetua.
Tuesday, September 18, 2012
Um passeio de automóvel
O
verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras
José Tolentino de Mendonça in De Igual para Igual - Assírio & Alvim - Lisboa, 2001.
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras
José Tolentino de Mendonça in De Igual para Igual - Assírio & Alvim - Lisboa, 2001.
Monday, September 17, 2012
Sunday, September 16, 2012
Saturday, September 15, 2012
Protestos
E, quando o desânimo nos retira a esperança, e nos
diminui a expectativa de futuro, eis que a sociedade civil se renova ao decidir
manifestar-se, acreditando que ainda haverá uma causa e uma nova resposta que
leve os agentes políticos a corrigir posições, em nome duma moralidade perdida.
Friday, September 14, 2012
Um pouco de esperança
O que peço ao dia é simplesmente
um pouco de esperança, essa forma modesta
de felicidade.
um pouco de esperança, essa forma modesta
de felicidade.
Vicente Gallego
Thursday, September 13, 2012
Ao lusco fusco
Hoje não trago nada que dizer.
Sossega o teu rosto no meu peito
Repousa em mim a tua
tristeza
Ouve os segredos que
te não digo
E a canção de forte
esperança
Que germina e rompe
devagarinho
Por todos os caminhos
da vida.
Na pureza desta tarde,
Ao lusco fusco,
Abre comigo os olhos
para os belos horizontes
Cada poente mistifica sempre
Uma nova madrugada.
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.
Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e
germina e rompe devagarinho
Por
sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa
angústia de eternidade.
TOMÁS JORGE - POETAS
ANGOLANOS (1959) IN ANTOLOGIAS DE POESIA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO
1951-1963, Vol. I (ACEI, 1994)
Repousa em mim a tua tristeza
Abre comigo os olhos para a vida.
Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.
Abre comigo os olhos para a vida.
Hoje a minha voz é de búzio
Fala baixo e em segredo
Numa canção que enche o mar, o mundo,
e germina e rompe devagarinho
Por sobre os escombros de luz
Deste poente que cai sobre o mar
Numa angústia de eternidade.
Wednesday, September 12, 2012
Tuesday, September 11, 2012
A voragem do tempo
O excesso de
consumo trouxe-nos até aqui, e se por um lado estamos condenados a pagar, por
outro estamos indisponíveis para mais sacrifícios. Falta mobilização,
estruturas de investimento, e propostas de criação de emprego que, poderiam
traduzir-se numa outra eficácia.
Monday, September 10, 2012
Proximidade
Há muitos e muitos milhares de
anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficaram, que ela se
instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo
uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a
poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas
centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da
defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de
silencioso mistério e sedução.
Manuel
Hermínio Monteiro (1952 – 2001) in introdução ao livro «Rosa do Mundo — 2001
Poemas para o Futuro»Manuel Hermínio
Monteiro (10/09/1952 § 03/06/2001), na sua introdução ao livro «Rosa do Mundo —
2001 Poemas para o Futuro».
Sunday, September 9, 2012
Saturday, September 8, 2012
Friday, September 7, 2012
Um sem número de coisas
Andar à
procura das chaves do carro, dos óculos escuros, ou da trela do Rico, e perder,
frequentemente, meia hora de um tempo precioso, pode tornar-se num verdadeiro martírio.
Poucas são as casas desenhadas para albergar uma quantidade infindável de papelada,
desde contas para pagar, publicidade, pequenas notas que não queremos esquecer,
a recortes de revistas e jornais, ou formulários de um seguro que acabamos por
não preencher. Parte das nossas vidas é passada à espera. Num consultório, ou
centro de saúde, numa fila nos correios, ou para adquirir um bilhete de cinema.Mas, feitas as contas, o importante é chegar ao final do dia e sentir que, na prática, alguma tarefa, seja ela qual for, foi realizada em concreto. Regar uma planta, coser
um botão, arrumar uma gaveta, de forma que ainda nos sobeje alguns instantes
para folhear um livro, apreciar uma boa chávena de chá, saborear um gelado numa noite quente de Verão, ou
simplesmente escrevinhar.
Thursday, September 6, 2012
Wednesday, September 5, 2012
O cheiro das flores
Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita
dos teus braços;
cheiro depois as
flores
e converso contigo
sobre a nuvem que
pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.
Depois,
não sei porquê nem
porque não,
essa recordação
desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge
a tua mão,
e a melodia já mudou
de rumo.
Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite,
na maior solidão,
sem
a tua presença verdadeira,
e
eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e
um ramo de flores, que não existe, cheira!
Miguel Torga in Diário IX - Chaves,17
de Setembro 1961
Tuesday, September 4, 2012
Os instantes do tempo
O que
irei fazer de diferente da próxima vez? As opções são múltiplas, e posso sempre
explorar outros caminhos, e escolher entre sair ou ficar, aceitar ou recusar, ou
aproveitar para apreciar um certo encantamento que, a vida ainda nos vai proporcionando.
Não há nada que me restrinja o campo de acção, e que me limite a liberdade ou a
sincronia de movimentos, porque nada é intransponível.
Monday, September 3, 2012
Sunday, September 2, 2012
Saturday, September 1, 2012
Friday, August 31, 2012
Se fosses um peixe
As flores que devoram mel
ficam negras em frente dos espelhos.
Os animais que devoram estrelas em frente dos espelhos
ficam brancos por detrás dos pêlos
ou das plumas da idade.
As pedras por onde circula a água
ficam vivas de tanto cantar e, quando se voltam,
atingem a sua maior velocidade interior.
Se vêm às portas ver quem bate,
os lençóis cobrem-se de respiradoras —
quando regressam ao sono, deixam as mãos abertas.
Se é uma estátua que bate,
corre-lhe o sangue pela boca, e sobre os ombros
torcem-se os cabelos,
e as asas tremem em frente da porta.
Se é um retrato,
sorri sufocado pela noite adiante.
Os espelhos são negros como os jacintos
da loucura.
Os crimes que olham para o espelho têm uma vibração
silenciosa.
Se é uma criança, diz:
eu cá sou cor-de-laranja.
Porém às vezes é bom ser branco,
é bom estar deitado.
O mel faz bem às pedras,
atrai os olhos dos anjos.
Quem aplaina tábuas
acumula uma obscura sabedoria.
Olha para os espelhos,
tens um talento assimétrico de assassino.
Vê-se nos teus ramos frutos negros
contra a paisagem móvel.
Se fosses um peixe,
a porta estaria nas águas mais íntimas, frias, límpidas
e caladas.
E não batias — cantavas a tua síncope
terrível.
Nada se veria na vertente do espelho.
Serias como uma máquina cor de cal
respirando.
Por isso te ofereço este ramo de lâminas
e um fato de perfil — e andas nos labirintos.
Por isso te sento numa cadeira de ar.
Por isso somos os dois um quadrúpede de seda
de uma beleza truculenta.
Temos toda a vigília para encher de silêncios.
Pensamos os dois o mesmo corpo inaugurado.
As flores que devoram mel tornam negros
os espelhos.
As colinas vão olhando, e tremem na nossa carne
as estampas de ouro
extenuante.
Por isso, por isso, por isso —
somos assim
obscuros.
herberto helder in apresentação do rosto
editora ulisseia 1968
ficam negras em frente dos espelhos.
Os animais que devoram estrelas em frente dos espelhos
ficam brancos por detrás dos pêlos
ou das plumas da idade.
As pedras por onde circula a água
ficam vivas de tanto cantar e, quando se voltam,
atingem a sua maior velocidade interior.
Se vêm às portas ver quem bate,
os lençóis cobrem-se de respiradoras —
quando regressam ao sono, deixam as mãos abertas.
Se é uma estátua que bate,
corre-lhe o sangue pela boca, e sobre os ombros
torcem-se os cabelos,
e as asas tremem em frente da porta.
Se é um retrato,
sorri sufocado pela noite adiante.
Os espelhos são negros como os jacintos
da loucura.
Os crimes que olham para o espelho têm uma vibração
silenciosa.
Se é uma criança, diz:
eu cá sou cor-de-laranja.
Porém às vezes é bom ser branco,
é bom estar deitado.
O mel faz bem às pedras,
atrai os olhos dos anjos.
Quem aplaina tábuas
acumula uma obscura sabedoria.
Olha para os espelhos,
tens um talento assimétrico de assassino.
Vê-se nos teus ramos frutos negros
contra a paisagem móvel.
Se fosses um peixe,
a porta estaria nas águas mais íntimas, frias, límpidas
e caladas.
E não batias — cantavas a tua síncope
terrível.
Nada se veria na vertente do espelho.
Serias como uma máquina cor de cal
respirando.
Por isso te ofereço este ramo de lâminas
e um fato de perfil — e andas nos labirintos.
Por isso te sento numa cadeira de ar.
Por isso somos os dois um quadrúpede de seda
de uma beleza truculenta.
Temos toda a vigília para encher de silêncios.
Pensamos os dois o mesmo corpo inaugurado.
As flores que devoram mel tornam negros
os espelhos.
As colinas vão olhando, e tremem na nossa carne
as estampas de ouro
extenuante.
Por isso, por isso, por isso —
somos assim
obscuros.
herberto helder in apresentação do rosto
editora ulisseia 1968
Thursday, August 30, 2012
Sinal de passagem
Wednesday, August 29, 2012
Recorrências
Um dos prazeres do Verão é abrir as janelas, e deixar o ar
entrar com o objectivo de o renovar e refrescar a casa, impedindo que o calor
permaneça. Evita-se, assim, cair em indolência, contemplando por entre o
movimento esvoaçante dos cortinados as pequenas flores emergindo de um vaso, ou
tão-somente o esplendor do sol.
Tuesday, August 28, 2012
Os ritmos da noite
As mãos pousam no ombro, ou são entrelaçadas, as ancas
movimentam-se de forma sensual e instintiva, e em plena pista de dança, os
passos têm características próprias. Sentir a salsa ao som de ritmos cubanos,
embalou-me, em mais uma noite de Verão.
Sunday, August 26, 2012
Saturday, August 25, 2012
O tesouro
Vamos descobrir um tesouro naquela casa?
- Mas não há nenhuma casa...
- Então vamos construí-la!
Groucho Marx
Friday, August 24, 2012
A meio da estrada
Por entre casas caiadas
de luar e de silêncio,
de luar e de silêncio,
paira no meio da
estrada
a poeira de outros
tempos...
David Mourão-Ferreira
Thursday, August 23, 2012
Quem?
Quem nos deu asas para andar de
rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar
Florbela Espanca in Não ser
Wednesday, August 22, 2012
Tuesday, August 21, 2012
Dias de nada
Venham enfim as altas alegrias.
As ardentes auroras, as noites calmas,
Venha a paz desejada, a harmonia.
E o resgate do fruto, e a flor das almas.
Que venham, meu amor, porque estes dias
São de morte cansada,
De raiva e agonias
E nada.
José Saramago
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