Tuesday, March 12, 2013

Ponto de equilíbrio


Monday, March 11, 2013

Memórias


A evidência da vida não é a imediata realidade mas o que a transcende e estremece na memória.

Vergílio Ferreira In Aparição

Sunday, March 10, 2013

Tempos livres






Um jantar divertido, num local surpreendente e em boa companhia. animaram a festa de mais um aniversário da nossa amiga Lurdes.

Saturday, March 9, 2013

Irrealidade


O amor de um pelo outro é como uma extensa sombra que se beija, sem qualquer esperança de realidade.

Anaïs Nin

Friday, March 8, 2013

Os teus olhos



Enquanto as cidades costeiras
o coro trágico da posteridade
aspira o ar
como funcionário que se prepara
para as tarefas do dia
avisto os teus olhos

Os teus olhos deveriam ter nascido em épocas diferentes

em mundos diferentes
não neste lugar panorâmico e incurável
onde os sentidos são
repetidamente censurados
nestes barrancos áridos
para que o tempo passe
com todas as armas da culpa

No salva-vidas enquanto o meu navio se afunda

os teus olhos
dos quais nunca me poderia defender
erguem-se num louvor
capaz de ensurdecer para sempre
os que duvidam


José Tolentino de Mendonça in Estação Central, Assírio & Alvim

Thursday, March 7, 2013

Registo nostálgico


Wednesday, March 6, 2013

Só a ausência


Caminho sem saber dos meus passos. Para um lugar onde tudo se faz alheio. Nem noite, nem dia, nem dúvida, só a ausência. Deito-me na base da montanha sobre um solo hostil. Não sei o que aí deixo. Os olhos fogem-me para o alto. Transporto a flor do tojo e coloco-a aos teus pés, que se desenham. Ganho raízes, tenacidade, loucura. Para saber como as nossas veias se estendem e se encontram.

Silvina Rodrigues Lopes in Sobretudo as Vozes, Edições Vendaval

Tuesday, March 5, 2013

Teia de imagens






À medida que avanço, é como o despertar dum sonho que, se desenrola perante o olhar. São caminhos únicos, que me chegam na sequência de outros, infindáveis em várias frentes, sem fronteiras, e marcantes por celebrarem um instante incrivelmente belo! 

Monday, March 4, 2013

Sem rumo certo


Alice chegou a um jardim onde viu flores que falavam e cantavam. Muito admirada perguntou-lhes: - Como posso crescer novamente? - Siga em frente, responderam as flores em coro. Alice obedeceu. Andou, andou, e encontrou em cima de um cogumelo um bichinho verde que lhe perguntou: - Que deseja, menina? Percebendo a tristeza de Alice, o bichinho verde disse: - Coma o cogumelo, mas só do lado direito, senão diminuí de tamanho. Minutos depois de comer, Alice voltou ao seu tamanho normal. Muito feliz, levou consigo mais dois pedacinhos do cogumelo. E, sem rumo certo, Alice continuou a andar. 

Alice no País da Maravilhas (conto infantil)

Sunday, March 3, 2013

Enfrentar audiências






Os sinais de nervosismo são transversais a todo o ser humano, quando se trata de falar em público, e o medo nos dificulta a exposição. O nosso corpo tende a alterar-se, por vezes, gaguejamos, ficamos desprovidos de gestos e raciocínio, chegando até a ruborizar. É como se a plateia representasse um animal feroz, e ou nos limitamos a sorrir, ou nos determinamos a domá-la! Porém, enquanto o stress tóxico apenas nos intoxica, em alternativa, o stress tónico pode contribuir para uma performance feliz! Predispondo-nos ao sucesso através de pequenas técnicas, conseguimos não só dissimular cada uma das nossas inquietações, como ao esquecê-las as passamos a aplicar.
Afinal, o sucesso de qualquer discurso está em informar, entreter, saber persuadir pelas emoções, e convencer pela razão. Foi esta a comunicação que nos foi transmitida por Jorge Freitas, autor do livro 7 segundos, numa palestra sobre a arte de falar em público com paixão, organizada pelo Banco do Tempo, na Biblioteca Municipal Lídia Jorge.

Saturday, March 2, 2013

O protesto




A perda de direitos, e a ausência de horizontes e expectativas, fez com que o acumular de tensões levasse um milhão e meio de pessoas a sair à rua, numa manifestação pacífica que transcendeu partidos. Slogans anti-troika e anti-austeridade foram a forma de expressão política encontrada, quando a «Grândola Vila Morena», de boca em boca, se transformou no grito de alma de um povo.

Friday, March 1, 2013

Março


Em Março, tanto durmo como faço.

provérbio

Thursday, February 28, 2013

O golpe


Estremece-se às vezes desde o chão,
Por se ter uma navalha no bolso:
por o sexo ser sumptuoso:
por causa dos buracos luminosos na camisa,
Tem-se medo do poder
da nudez,
A finura da carne: uma unhada
no coração:
o modo de fazer rodar o quarto:
o barulho que se ouve nos canos onde
a água vive - tudo
sob a ameaça de uma riqueza
brusca
em nós, Quando um raio se desencadeia
pela coluna vertebral
abaixo, O golpe entre as madeixas
frias, Toca-se na cama:
e nunca mais se dorme, Toca-se
onde os pulmões se cosem à boca para gritar,
Às vezes tem-se o dom de fincar os pés na paisagem
em massa, Um feixe
desenfeixa-se no avesso - estala
fora, Com que vozes se encontra a gente
quando
o pavor se faz música
ordem
exercício nominal?,
Arrancamo-nos a tudo como
se arranca a unha
a um dedo: ou o dedo à mão: ou à mão
ao gesto
amassando a terra como se penteia,
Pente que reabre a chaga e a alastra,
Que a aprofunda
como o sangue aprofunda a claridade
pequena
de um lenço, se o lenço
se molha na costura que sangra
perpetuamente, A coroa irrompe da cabeça
pelo ímpeto
da realeza animal, O choque de um astro
calcinaria tudo
- o ceptro que nos crava no mundo
o manto
o escudo
os anéis como nós de dedos,
Morre-se de alta tensão,
É o relâmpago de um troço avistado,
As voragens à força de janelas,
ou é Deus que nos olha em cheio: dentro


Herberto Helder in Ofício Cantante, Assírio & Alvim

Wednesday, February 27, 2013

De ti


tudo o que vem de ti é um poema

Maria do Rosário Pedreira

Tuesday, February 26, 2013

Acção colectiva


Monday, February 25, 2013

Perseguição

Quando ela passa, junto da minha janela,
Meus olhos vão atrás dela até ver, da rua, o fim.
Com ar gaiato, ela caminha apressada,
Rindo por tudo e por nada, e às vezes sorri p'ra mim…


Artur Ribeiro in Rosinha dos limões 

Sunday, February 24, 2013

Protagonismo


Mérito, talento, e pessoas bonitas e famosas da elite cinematográfica de todo o mundo, irão desfilar pela passadeira vermelha do Kodak Theater para a gala da entrega dos Óscares. Há quem tente adivinhar os vencedores das estatuetas douradas, madrugada fora, mas o desfecho poderá trazer surpresas.

Saturday, February 23, 2013

Descobrir caminhos








Sigo-lhes o rasto, em delírio, tal e qual como uma paixão que se reacende, e nunca deixa de me impressionar. O andar ganha velocidade e leveza, e a minha alma voa ao reencontrar a magia das amendoeiras em flor, mesmo no final dum ciclo. Soltas e felizes, uma a uma, cada pétala se desprende para me cobrir a passagem, como se fosse um último suspiro. 

Friday, February 22, 2013

Mundo de enganos


Se me deixares, eu digo
O contrário a toda a gente;
E, neste mundo de enganos,
Fala verdade quem mente.
Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos,
Já não aquece outra boca,
Já não merece os teus beijos;
Mas, tem cuidado comigo,
Não procures ser ausente:
- Se me deixares, eu digo
O contrário a toda a gente.

António Botto

Thursday, February 21, 2013

O presente


A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda.

Hélia Correia in A Terceira Miséria, Relógio d'Água, 2012

Wednesday, February 20, 2013

Um sorriso


Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.

Almada Negreiros in Frisos - Revista Orpheu nº1

Tuesday, February 19, 2013

Primeiros gestos


Monday, February 18, 2013

Bálsamo


Ao recordar a infância, torna-se inevitável destacar aquele pequeno ursinho de peluche, sempre atento às mágoas, quando o desconforto é evidente. Com a capacidade de nos ouvir, é ainda capaz de mudar o rumo dos acontecimentos num mundo tão hostil quanto irreparável.

Sunday, February 17, 2013

Semidesilusão




Entre vinhedos e amendoeiras em flor, o que parece estar em causa, na natureza, supostamente perfeita, é meia flor. Em cada metade que se perde, anterior à que fica, um mesmo solo sobre o qual tudo se repete, e que na sua pequena condição se redime.

Saturday, February 16, 2013

Do outro lado


Se me disserem que estás do outro lado 
de uma ponte, por estranho que pareça
que estejas do outro lado e que me esperes,
eu atravesso essa ponte.

Diz-me qual é a ponte que separa 
a tua vida da minha, 
em que hora negra, em que cidade chuvosa, 
em que mundo sem luz está essa ponte,
e eu atravesso-a.

Amalia Bautista

Friday, February 15, 2013

Muro alto


Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
 


José Tolentino Mendonça

Thursday, February 14, 2013

Diz-se tudo sem palavras


O percurso é tão forte que num primeiro capítulo extravasa desconhecendo fronteiras. A inutilidade das palavras abre caminho à sonoridade do gesto, tão poético quanto doce, num tempo que, parece mais longo do que, na realidade, é. Mas, eis senão quando na ausência da autenticidade ao nível do desenlace momentos de desencanto e frustração se repetem, num regresso impossível. 

Wednesday, February 13, 2013

Ondas de rádio


O acesso à informação, as vozes ao longo do dia, e por vezes em noites de insónia, o destaque à música, tudo isso tem a ver com a rádio neste primeiro dia em que é celebrada. Invisível, além da companhia, transporta-nos, como que por magia para além do que se não conhece, quando a imaginação não tem limites. Basta sintonizar!