Sunday, July 26, 2015

Festa de Verão





Saturday, July 25, 2015

Intimidade encenada


Friday, July 24, 2015

Sem fuga

Nunca ela pensou viver esse momento ou sequer vir a transmiti-lo a quem quer que fosse. Mas, quando aquela criança passou a partilhar o mesmo espaço que ela, ocasionalmente, este parecia redimensionar-se num sentido muito mais amplo. Não sei se seria da transparência do olhar, da sua voz doce ou da verdade absoluta das palavras que a cativavam e remetiam, do fim para o princípio, quando um outro menino, em tudo igual a este, lhe pertencia em exclusivo.

Wednesday, July 22, 2015

Sonho

 O sonho encheu a noite
 Extravasou pro meu dia
 Encheu minha vida
 E é dele que eu vou viver
 Porque sonho não morre.


     Adélia Prado

Sunday, July 19, 2015

Saturday, July 18, 2015

Projecto artístico


Friday, July 17, 2015

Uma nesga de sol

Nunca te esqueci - é este um amor maior
 que atravessa a vida e resiste à cicatriz
 do tempo. O que ontem me disseste agora
 o ouço, como se nada tivesse interrompido
 a magia do instante em que as nossas bocas
 se aguardavam na distância de um beijo e
 o olhar tocava o corpo antes da mão. Se

 hoje vieres por esse livro que deixaste (e cuja
 lombada acariciei todos os dias que durou a tua
 ausência como uma nesga de sol acaricia um
 rosto no inverno), encontrarás a sopa a fumegar
 na mesa, e a camisa engomada no cabide, e os
 lençóis da cama imaculados, e um corpo pronto
 para qualquer aventura - e ainda o cão deitado
 à porta, à tua espera, como na véspera de partires.

 Porque os anos não contam para quem assim ama.

 Maria do Rosário Pedreira


Thursday, July 16, 2015

Desejo

Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar
 O beijo mata o desejo
 E eu quero-te desejar.


António Aleixo

Wednesday, July 15, 2015

Tuesday, July 14, 2015

Clube das Letras





«Nunca se sabe o que uma viagem pode trazer ao íntimo do coração» Lídia Jorge in a Instrumentalina.

Monday, July 13, 2015

Alinhamento


Sunday, July 12, 2015

A fractura

A falta de conhecimento da História e das consequências que daí poderiam advir demonstravam a incapacidade de despertar de um pesadelo maior. Divididos, faltava-lhes a compaixão e a abertura que os transformara em intransigentes personagens. O medo parecia, ainda, ser a única razão que os movia em busca da solução dum problema do qual teriam lucrado em juros e que, no final, lhes poderia vir a sair caro.

Friday, July 10, 2015

Thursday, July 9, 2015

Pássaro nulo

Pássaro nulo
a configuração da tua ausência
o corpo a preencher-se
em ressalvas de medo
ao meu lado
doìdamente longe

Dir-te-ia do sólido
confronto que imagino
ou do conforto de te poder ter
em figura de estilo


Ana Luisa Amaral

Wednesday, July 8, 2015

Aquele

aquele que o meu coração ama
partiu às cegas sem descobrir
as húmidas palavras que se espalham
à sombra dos ciprestes
contando os minutos que faltam
para a vertigem do corpo onde o aguardo


Alice Vieira

Tuesday, July 7, 2015

Memórias

Poiso na tua memória. Sorris
Nem tocas com a mão para não me
afugentar
                   Imóvel fico da tua cor



Teresa Rita Lopes in A fímbria da fala

Monday, July 6, 2015

O exercício da magia

Por isso ele era rei, e alguém
 se punha diante da realeza para ter um pensamento, uma palavra
súbdita: dá-me um nome, uma
 baforada
 desfere o ceptro contra a minha testa para eu ver
 uma constelação maior que onze varas,
 enche de hélio o espaço reservado à minha glória quando me volto
 na escuridão com toda a potência
dos raios, dizia, o torso envolto pelas ramagens
 do fogo,
 bate-me na testa e que eu seja a minha luz, onze
varas de luz para os braços torcidos,
uma camisa aos rasgões brilhantes por força
da entrada e saída
do ar, porque de ti recebo a soberania e lanço pela boca
 petróleo a arder como no circo dos prodígios
 fazem os reis terríveis,
 por isso também eu tenho o poder e o sítio e o exercício
 desta magia: a realeza de uma combustão,
acto, verbo,
e em estado natural os elementos:
 madeira, cristal e ouro, e o ar movendo
 o poema número a número.
  


 Herberto Helder in Poesia Toda, Lisboa: Assírio & Alvim, 1996

Sunday, July 5, 2015

Momento-chave


Num mundo sem unidade, o voto foi de esperança e a palavra de ordem NÃO - expressiva e de coragem, sem se deixar intimidar por parte de poderes instalados e com a firmeza do orgulho nacional.

Saturday, July 4, 2015

Pausa


Wednesday, July 1, 2015

O mar

tanto me faz, doido de nada
ou doido de tudo, no pasto
do vento, os olhos magros
a recusar imagens, uma
palavra eleita pela boca, um
nome impossível de atribuir, já
deus reclamando a posse do
mundo, já eu na rama do
passado, só um fogo pálido
onde o mar se vem aquecer


 valter hugo mãe in três minutos antes de a maré encher - quasi 2000


Tuesday, June 30, 2015

Clube de Letras





    «O amor é tudo - excepto o que deveria ser.»

    Luisa Monteiro in Vaca-Loura

Monday, June 29, 2015

Sunday, June 28, 2015

Ao domingo

Dá-me, um sorriso ao domingo,
 Para à segunda eu lembrar.
 Bem sabes: sempre te sigo
 E não é preciso andar.

Fernando Pessoa


Saturday, June 27, 2015

Friday, June 26, 2015

Até à vista

Eram sete e meia.
O mais tarde que podias entrar era até às oito
e depois das oito tornava-se reparado.
Havia ordem no mundo
e meia-hora para nós,
meia-hora que não foi como queríamos
meia-hora em que cada um de nós nos prejudicava
habituados que estávamos a não nos termos visto nunca.
Levámos meia-hora a combinar outra hora para nós
meia-hora que afinal só começou depois de terminada
ao despedirmo-nos até à vista.
E até tornar a ver-te
eu não me senti, nem a fome, nem a sede
nem outra vontade que tu,
fiz como os poetas
que apagam a realidade
para lhe pôr outra melhor por cima.


José de Almada Negreiros in Poemas - Lisboa: Assírio & Alvim, 2005