Há tempos que estava para lá ir, e aproveitando a visita dum casal estrangeiro amigo, pensei que seria uma óptima oportunidade para não adiar um antigo desejo. Assim, na véspera de lá nos deslocarmos, propus-me estudar a lição, imaginando antecipadamente o brilharete que iria fazer no dia seguinte. Da minha pesquisa fiquei a saber que apenas distava de Faro 10 km, e que o palácio de fins do sec. XVIII, em estilo rococó, teria em tempos pertencido ao Visconde de Estói, numa área de cerca de 4 hectares. Exigente comigo própria, e não me satisfazendo somente com uma breve consulta, recorri ainda à Elisa, conhecedora da sua região como ninguém, que me terá aconselhado nos últimos pormenores. Afinal nada poderia falhar. Porém, logo à entrada demos de caras com um cartaz que nos impedia a entrada, informando que ao contrário do previsto as obras prolongar-se-iam até final de Agosto!? Isto nada teria de caricato, se não se tivesse passado a meio do passado mês de Outubro!
Aliás não estávamos a contar visitar o palácio, que de antemão sabíamos encontrar-se em obras de recuperação. Dos espelhos e estuques marmoreados do seu interior, a lembrar Versalhes, teríamos já prescindido vislumbrar, mas dos exuberantes jardins com plantas exóticas seculares, e aparentemente de um monumental cipreste já lamentamos, assim como dos vários lagos, estátuas importadas de Itália de valor incalculável, e dos azulejos azuis e brancos, pelos quais pessoalmente sou absolutamente apaixonada.
No entanto estou em crer, que uma vez terminado o restauro, por parte da unidade hoteleira privada que o adquiriu, dificilmente o público voltará a ter acesso a este complexo arquitectónico, único nesta zona do país. Mesmo assim, com alguma dificuldade, consegui captar uma pequena amostra de fotos, que me ficará na memória, e permanecerá para a posteridade. De regresso a casa valeu-nos um arroz de peixe, macio, enriquecido de camarões, servido muito quente e polvilhado de coentros, a lembrar o último risotto que apreciei em Roma - qual experiência gustativa, acompanhado de um bom vinho alentejano, claro está!
Friday, November 14, 2008
O palácio perdido
Thursday, November 13, 2008
Lacuna

Só na água dos rios e dos lagos ele podia fitar seu rosto. E a postura, mesmo, que tinha de tomar, era simbólica. Tinha de se curvar, de se baixar para cometer a ignomínia de se ver.
O criador do espelho envenenou a alma humana.
Tuesday, November 11, 2008
Monday, November 10, 2008
Terra à vista

Que tem muito que contar!
Ouvide agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.
- "Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal!"
- "Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar."
- "Acima, acima, gageiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal!"
- "Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar."
- "Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar."
- "A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar."
- "Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar."
- "Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar."
- "Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual."
- "Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar."
- "Dar-te-ei a Nau Catrineta,
Para nela navegar."
- "Não quero a Nau Catrineta,
Que a não sei governar."
- "Que queres tu, meu gageiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?"
- "Capitão, quero a tua alma,
Para comigo a levar!"
- "Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar."
Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a Nau Catrineta
Friday, November 7, 2008
Em voz alta
Sem mais caber nos livros, eis que a sua poesia cristalina, exacta, e precisa, como se de geometria se tratasse, transborda pela voz de Afonso Dias – o anfitrião da noite, que guia toda uma plateia repleta de jovens, e menos jovens, na trajectória de toda uma existência.
Sophia de Mello Breyner Andresen encontra a essência da vida nas coisas mais pequenas, e sensível à realidade, empenha-se no combate desigual com feroz sarcasmo, projectando todo o seu sentido nos outros. O contacto real com a Grécia e o mar, que ela própria representa, constituem a compreensão da sua inspiração, que em voz alta evocámos apaixonadamente, num serão poético na Biblioteca Municipal.
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.
Inscrição de Sophia de Mello Breyner Andresen
Thursday, November 6, 2008
Talvez
Wednesday, November 5, 2008
A dimensão do olhar

Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas: há âncoras, há sereias. (…)
Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-os de tritões a cavalo de golfinhos.
José Cardoso Pires
Tuesday, November 4, 2008
A lógica dele

emocionada e disse que eu era um cavalheiro.
… E todos os dias fui tomando gosto pelas aulas e me aplicando cada vez mais.
Nunca viera uma queixa contra mim de lá.
… A escola. A flor. A flor. A escola…
Tudo ia muito bem quando Godofredo entrou na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza. Quando terminou a aula, me chamou.
- Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco.
Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava coragem entre as coisas. Afinal se decidiu.
- Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça, afirmativamente.
- Da flor? É, sim senhora.
- Como é que você faz? - Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
- Sim, mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um “furtinho”.
- Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também…
Ela ficou espantada com a minha lógica.
- Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro…
E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
José Mauro de Vasconcelos
Sunday, November 2, 2008
Em contramão

Manuel Jorge Marmelo
Friday, October 31, 2008
Feitiços nocturnos

Thursday, October 30, 2008
Virar a página

Wednesday, October 29, 2008
Fazes-me falta

Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei
In the name of your absence
I built with madness a large white house
And wept all along its walls for you
Translated by Richard Zenith
Monday, October 27, 2008
A magia das palavras
Não contei, mas ao todo deviam andar à volta duns 40, a rondar os 10, ou 11 anos de idade. Sensível à sonoridade das palavras, sorvia-as de cada uma daquelas crianças, uma a uma até final. Os primeiros a apresentar-se foram o Fábio e a Francesca, que leram parte de um conto por eles escrito o ano passado. Seguiram-se-lhes o Gonçalo, a Laura, o Tomás e tantos outros. Num momento em que por vezes, a língua tende a descaracterizar-se, de uma forma ordenada e exemplar, cada um através de pequenos textos ou poemas, veio dar corpo à própria imaginação, num exercício criativo absolutamente de louvar. No dia escolar das bibliotecas, estão de parabéns o professor Joaquim Veiga, e as professoras de Língua Portuguesa Marta Cirne e Isabel Pina, da Escola Dr. Francisco Cabrita, que contribuíram para o êxito desta iniciativa, da qual adorei participar. Termino com o registo do pequeno Raphael, que não deixou ninguém indiferente:
Vejo uma sombra que trespassa nos meus olhos e ao passar
sinto dor e mágoa dentro de mim.
Essa dor lembra-me o sofrimento
a mágoa faz-me lembrar quando
uma pessoa que gostamos muito desaparece.
Ao lembrar-me dessas coisas, vou
escrevendo palavra a palavra o
que sinto quando isso me acontece.
Mas, se um dia me lembrar de
outras coisas, possa ser que volte
a escrever, mas desta vez
a pensar nas coisas que me fazem
escrever com a minha sombra.
Sunday, October 26, 2008
O almoço

Saturday, October 25, 2008
Convicções

A de que estamos no mundo
Por empréstimo.
Mas não por acaso.
Thursday, October 23, 2008
O enigma

Tuesday, October 21, 2008
Directo de Fátima
A primeira vez que por lá passei, não tinha mais que uma meia dúzia de anos. Aliás, de vez em quando volto lá, e ontem não foi excepção. Há quem acredite, quem pense que tudo não passa de um mito, ou de uma invenção, ou até quem creia tratar-se de um daqueles fantásticos episódios com óvnis (!?), mas para mim o que realmente importa é a tranquilidade e energia que recolho de cada vez que a visito. Inserida num grupo maioritário irlandês, num só dia percorremos 780 km numa totalidade de 13 horas, apenas com breves paragens para esticar as pernas, e confortar o estômago. No regresso, de olhos semi-cerrados pelo cansaço e pelo exercício de interiorização, não pude deixar de pensar na metamorfose de Fátima, desde os finais da década de 50, quando a conheci, até aos dias de hoje, com a nova basílica a impressionar qualquer um! Se de repente lá me desvendassem os olhos, sem saber onde me encontrava, a primeira ideia que me viria à cabeça para identificar o lugar, seria de imediato as Nações Unidas, tal qual como a imagino em dimensão!? Depois veio-me à lembrança um comentário de um jovem brasileiro residente em Belfast, que me confidenciou ter-lhe agradado mais a pequena localidade onde os pastorinhos tinham vivido – simples, humilde, parada no tempo! Para mim essa é a inalterada imagem que me permanece no espírito, e aquela que o excessivo comércio, e a opulência não me induziram em erro, nem me desviaram da genuína mensagem de Fátima, que muitos nunca chegarão a entender ou alcançar.
Monday, October 20, 2008
Projectando

Saturday, October 18, 2008
Mais perto do céu

Friday, October 17, 2008
Folhas ao vento
