Saturday, January 23, 2010

Intrusão à sombra

Na melancolia dos dias, indefinidos e sem amanhecer, volto-me para a cozinha. Começo por peneirar a farinha. Depois, misturo todos os ingredientes, batendo a manteiga com o açúcar e os ovos, até obter uma massa homogénea, macia e fofinha. Sobre o balcão enfarinhado, estendo a massa, e corto os biscoitos com o molde desejado, que levo ao forno brando, pré-aquecido, num tabuleiro untado, coberto de papel vegetal. Entre o som da chuva que cai, e o próximo passo, sinto o calor como um raio de sol. Falta apenas virá-los, para que dourem de ambos os lados, por escassos minutos apenas. Logo a seguir, é só deixar arrefecer, comer, e chorar por mais, porque a chuva se tornou uma constante, e faz-me falta a presença do sol.

Tuesday, January 19, 2010

O fim de si mesma

A imagem é neutra, e sem qualquer conteúdo, remetendo-nos para o silêncio e o desespero dos tempos. Sem rosto próprio, sem corpo, nem matéria, completamente desabitada, e à mercê dos dias. Lidar com a nossa inutilidade, e descobrir novas vias. E, porque a motivação está sempre dentro de nós, é preciso desimpedir o caminho, perseguindo objectivos, e espantando a noite. E, num instante, tudo pode mudar.

Saturday, January 16, 2010

Terapia energética


Simples e eficaz, flui através das mãos, até onde quem recebe mais precisa. A arte é antiga, e porque a energia do universo é infinita e inesgotável, aproveitemo-la para o nosso benefício pessoal, e para o bem dos outros, atendendo às necessidades de cada um. Uma vez recuperado o estado de equilíbrio, o despertar da consciência é alcançado, assim como o bem-estar e a paz interior.
Mais informações em www.mestreviktor.blogs.sapo.pt

Friday, January 15, 2010

A cidade caiu

Os anjos choram.

Uma cidade caiu
e os homens perderam-se nos trilhos
das casas agora desabadas.
As mulheres de joelhos em cima do
nada

já não sabem rezar.

Os anjos choram
e o bálsamo de todas as
feridas
não chega até nós.

Maria Alexandre Dáskalos - Jardim das Delícias

Wednesday, January 13, 2010

Dar à costa

Vasto e ousado o mar abreme-me o olhar. Da sua cor cinza emergem correntes, vociferando a estrondosa cadência das ondas. Mantenho-me flutuante no seu vaivém, encimada por um céu grave e sombrio sobrevoado de gaivotas. A intensidade da ventania de oeste, transporta consigo a humidade que se move no tempo e no espaço, inventando atalhos ao nível das águas. Outrora percorridos por navios e náufragos, dispersam-se, advinhando tempestades que nos ensombram o destino dos dias mais próximos.

Monday, January 11, 2010

Mais um

Acompanha-me os gestos e os passos, por meio de diversos registos, e do que conto de mim própria. Postar na hora certa percorrendo o mundo da forma mais rápida, requer disciplina, vitalidade criativa, e por vezes mergulhar em memórias mais distantes. No dia que o Capricho completa dois anos de existência, uma saudação a todos os seus visitantes, e em especial aos que comentam os posts. A todos desejo boas leituras e a continuação de um óptimo 2010.

Sunday, January 10, 2010

Fun time



I've done this slide show at Paul Buick's request with music and photos supplied by him.

Is there a better way to celebrate birthdays than in the company of your friends? Well, because nothing can make a person feel more special than someone throwing a surprise birthday party for them, that’s what Paul Buick’s friends did at JOJO’s - a large place downtown in Albufeira that this evening of 10.01.10 has hosted the party!

Wednesday, January 6, 2010

Fim do Natal

Tradicionalmente o dia de hoje é aquele em que as decorações de Natal voltam a ser colocadas em caixas, e religiosamente guardadas, até ao final do ano. A árvore colorida, luminosa e enfeitada é desmontada, e um a um são desfeitos os laços, e as aplicações douradas, associadas ao sol, à luz e sabedoria. Seguem-se as bolas de cores e tamanhos diferentes, que se destacaram no verde da árvore, durante semanas a fio, dançando entre anjos e estrelas de caudas cintilantes. Mas, os que me são mais queridos são sem dúvida os enfeites personalizados, executados há alguns anos, pelas mãozinhas dos meus filhos, provenientes da sua imaginação infantil.

Monday, January 4, 2010

Acima das nuvens

Chegam de outros quadrantes, através de um sopro, de um longo e forte vento. Com as suas asas brancas, conquistam as alturas mais rápidos que aves. Sem sombra de pecado, são a essência de tudo o que somos, e objectos de um estado espiritual elevado. Avistei-os em Sintra, ao mergulhar numa realidade celestial, de evocação e sonho.

Saturday, January 2, 2010

Mundo imperfeito

Aproveitando ao máximo os festejos da época, volto a embarcar na viagem, que 2010 me traz. Começo por ordenar a mente, e apurar os sentidos mais intuitivos em toda a sua vastidão. Depois, respiro a evocação do aroma a jasmim nocturno, deixando-me enlear por ruas irregulares e estreitas como vias de energia. Inicialmente difuso e distorcido, o campo de visão espraia-se pouco a pouco, entre palavras sussurradas e o silêncio total. Lanço o olhar para além do infinito, na profundidade do tempo efabulado. A roda da fortuna é uma montanha russa absurda e desconcertante, que nos anima as horas, acelerando-nos o ritmo cardíaco. Aí, escondo a realidade do sofrimento como reacção ao que me perturba, torneando os destinos do mundo por novos caminhos inexplorados.

Thursday, December 31, 2009

Ventos de mudança

Receber o novo ano a preceito, de preferência supersticiosamente, e em estilo, que é como quem diz entre outras coisas, saltar de uma cadeira com o pé direito, é o que tenciono fazer mais logo. Depois, vai ser um ver se te avias para conseguir comer as doze passas ao som das badaladas, ao mesmo tempo que para cada uma delas, atribuo um desejo - habilidade ainda mais difícil do que a de me empoleirar no maple! Finalmente, não faltará a taça de champanhe, que deixei já a gelar, sem esquecer os telefonemas aos familiares, e amigos mais chegados. Para a ressaca do dia seguinte, deixo o balanço do ano que termina, as habituais reflexões e incertezas, a análise da situação global, o desalento colectivo, e a grande incógnita das expectativas futuras. Isto, porque certamente, 2010 trará a solução, quando como eu nela se acredita.

Monday, December 28, 2009

Junto à baía



O curto tempo de lazer foi apenas suficiente para um breve passeio pela marina, e pequena ronda pelo seu património histórico, com passagem pelo Museu dos Condes Castro Guimarães, o Forte e o Farol de Santa Marta, e o Centro Cultural de Cascais. A proximidade da capital, as praias e a paisagem, sem dúvida que a converteram num dos principais destinos turísticos do país.

Saturday, December 26, 2009

Era uma vez...


Instalada em Cascais, num espaço criado por Souto Moura, rodeado de árvores centenárias, a Casa das Histórias de Paula Rego, inclui uma colecção de pinturas, desenhos, e gravuras mundialmente reconhecida, e cada vez mais apreciada pelo público e coleccionadores. As suas histórias revelam energia e criatividade, muitas vezes inspiradas quer em memórias de infância, quer em contos infantis, remetendo-se ainda a temas mais dramáticos ligados sobretudo ao universo feminino, numa visão única e absolutamente vertiginosa! Eu gostei. Se quiser ver também, a entrada é gratuita, e funciona diariamente das 10h às 22h.

Thursday, December 24, 2009

Em plenitude


No aconchego do lar, entre bolas, fitas, e luzes cintilantes de todas as cores, há também lugar para um certo espírito de recolhimento, ao celebrarmos a memória do recém-nascido, que desperta a criança no íntimo de cada um de nós. E, apesar de tantos excessos e extravagâncias, o Natal afinal passa principalmente pela simplicidade, em busca da verdadeira paz. Nesta noite venturosa, ao seguimos a estrela, que um dia conduziu todos os povos a Belém, lembramos aqueles de quem mais gostamos à distância, ou os que já partiram, quando o amor se amplifica ecoando por todo o mundo.

Wednesday, December 23, 2009

Sobre a cidade


Esta névoa sobre a cidade, o rio,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo para perder,
esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau

Lisboa de Eugénio de Andrade

Monday, December 21, 2009

Árvores e gentes

A Célia faz parte de um grupo de profissionais que sempre nos atenderam bem. Contudo, a simpatia aliada ao seu sorriso e encanto natural, faz com que o seu desempenho seja amplamente reconhecido.
Em sintonia com as formas e os espaços, ela vai criando novas realidades, à descoberta de uma outra perspectiva. É entre traçados de rectas e superfícies curvas, realçadas de luminosidade, que do seu novo loft, de frente para o Tejo, se projecta até à obra final. A partir da sua percepção visual, a minha sobrinha Carlota constrói esboços, croquis, e ideais, convertendo-os em intervenções urbanas.
E, porque tudo o que existe constitui um todo interligado, na Teresinha encontro uma cúmplice para de corpo e alma crescer em sabedoria. Quer se trate de impressões do quotidiano, de um impulso artístico, ou dum despertar de consciências, ambas nos deixamos estimular pela sintonia interior e suas vibrações, que nunca se esgotam.

Saturday, December 19, 2009

Anjos de luz

Os anjos são assim
quem os encontra
sabe-os
de todas as cores
azuis amarelos violeta
e quando a noite desce
embalam os sonhos.

Vestem-se de estrelas
e as asas transparentes
só conhecem o infinito.

São verdes e rosa são únicos.

Maria Alexandre Dáskalos - Jardim das Delícias da Caminho

Thursday, December 17, 2009

Herança islâmica

A poesia luso-árabe esteve em destaque no 5º aniversário da Biblioteca Lídia Jorge, através de um recital protagonizado por Eduardo Ramos, com temas do poeta Almutâmide, que abordaram nomeadamente o vinho e o amor, deixando marcas em Portugal, e, influenciando posteriormente alguns dos nossos poetas.

Saturday, December 12, 2009

Estado meditativo

Como praticar a meditação, como forma de combater o stress e a ansiedade, foi o que fui aprender, num workshop dedicado à sua prática, com benefícios surpreendentes. Qualquer local serve para a pôr em prática, desde que arejado e limpo. Devemo-nos, apenas, acomodar numa posição confortável, ou sentados com as pernas cruzadas, ou deitados com as pernas estendidas e os pés unidos, tentando relaxar todo o corpo. Como objecto de concentração, podemos focar-nos na própria respiração, em lenta cadência, com especial atenção no abdómen, em cada inspiração e expiração. Assim, centrados no silêncio mental do ser, bem nas profundezas do nosso íntimo, ao mergulharmos no nosso interior, recuperamos o bem-estar no presente, sem passado, nem indícios do futuro, centralizando toda a energia em quem verdadeiramente somos.

Thursday, December 10, 2009

Travessia lírica

E porque o dia é dedicado aos direitos humanos, estive esta manhã, no auditório da Escola Dr. Francisco Cabrita, com duas turmas do 5º e 6º ano, para ouvir falar da nossa existência, em liberdade! Numa incursão pela poesia, ali estive como viajante, assistindo ao desenrolar dramático das várias formas de amar, pela voz de Paulo Moreira. Que logo nos desperta através de António Gedeão, no seu Poema do Amor. «O poema que o poeta propositadamente escreveu,/só para falar de amor,/ de amor,/ de amor». Profusamente surpreendente, a poesia volta a reerguer-se no palco numa brincadeira de opostos, pelas palavras de Luís de Camões. «Amor é fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer.» Sonoro e melódico, eis que surge António Ramos Rosa, que mais não pode adiar o amor, pela acústica de Viviane, dos Entre Aspas. «Ainda que a noite pese séculos sobre as costas/ E a aurora indecisa demore/ Não posso adiar para outro século a minha vida/Nem o meu amor/». Até que, adormecida nas profundezas, do mais fundo da alma, o brilho de Florbela Espanca se dilui no ar. «Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens!/ Morder como quem beija!/ É ser mendigo e dar como quem seja/ Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!». Para logo a seguir sermos conduzidos à clareza de Sophia de Mello Breyner Andresen. «As pessoas sensíveis não são capazes/ De matar galinhas/ Porém são capazes/ De comer galinhas». Seguidamente descobrimos Fernando Pessoa, o poeta dos poetas, pela mão de Alberto Caeiro, num momento electrizante, que numa visão pessoal nos indica que o menino Deus é o universo, e se encontra dentro de nós. «Ele dorme dentro da minha alma/ E às vezes acorda de noite/ E brinca com os meus sonhos./ Vira uns de pernas para o ar,/ Põe uns em cima dos outros/ E bate palmas sozinho/ Sorrindo para o meu sono.»
E, com o aproximar do Natal, o trajecto termina como começou, ou seja com António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho. «É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,/ de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,/ de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,/ de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.» Proponho que meditemos.