Sunday, May 31, 2009

Festa Azul

Cresci assistindo a um sem número de jogos de futebol, e a ouvir relatos radiofónicos com Artur Agostinho, e Alves dos Santos, que ainda hoje me dão prazer escutar, tanto em viagem, ou mais recatadamente na cozinha, ao preparar uma refeição. No rescaldo das vitórias o Futebol Clube do Porto centrando-se nos seus objectivos acabou por confirmar a sua superioridade a nível nacional, pelo rigor, disciplina, trabalho, e estabilidade interna, que se traduziram em permanente liderança. Parabéns aos campeões.

Saturday, May 30, 2009

Exercício de liberdade

A sua intenção foi criar um território, no qual sucessivas situações abrissem espaço a que o leitor partilhasse da sua construção. Desta forma o autor convida-nos a intervir, permitindo várias leituras de histórias que acabam por se cruzar. Como cenário temos a arquitectura duma cidade qualquer, com casas que ele atribui serem esqueletos de almas, e personagens representativas de corpos, ou não fosse o Sandro actor, encenador e director artístico. E porque somos vários homens, um a um estamos todos lá. E connosco estão não só os dejectos e o lixo urbano, mas também a náusea, a bílis verde, o sémen, o cuspo, o ranho, borbulhas e pontos negros, e muito sangue, sobretudo o que é morno, e deixa marca, que ao contrário das palavras não dá para apagar. O nojo puro está lá, ora nas costas duma mão, no rebordo duma cama, em quartos vazios, ou em acto de profanação. «O sagrado e o mundano, o crime e o maravilhoso, separados apenas por umas centenas de metros e umas quantas paredes rebocadas». E apesar de ser primavera, quase sempre a chuva cai, ininterruptamente como uma maldição, debaixo de um vento, que não se sabe bem donde vem, mas que conseguimos sentir, tal como tudo o resto. Propositadamente violento, por vezes até perturbador, apenas para nos provocar, também nos seduz quando «no meio do preto, por entre estrelas baças, o menino vislumbrou a lua. E a lua era para ele uma bolacha com recheio de baunilha. Suspensa de forma invisível e ainda inviolada. Bolacha gigante, cremosa e doce, regularmente trincada pelos seres e coisas que habitam o céu». O Caderno do Algoz da Caminho, da autoria de Sandro William Junqueira, a cuja apresentação tive o privilégio de assistir ontem à noite, é um livro que nos traz momentos surpreendentes, num processo criativo absolutamente genial.

Thursday, May 28, 2009

Produtos e serviços

Impõem-se no mercado como uma referência, quer pela sua qualidade, ou pelo preço competitivo, e estilo. Nos Estados Unidos, onde me desloquei recentemente são várias as marcas que pela sua popularidade se tornaram verdadeiros símbolos, e por vezes motivos de um orgulho genuinamente patriótico. Aqui fica o registo de algumas que fotografei, desde a Coca-Cola e cerveja Coors, em milhares de bares, e frigoríficos por esses lares afora, aos cachorros quentes presentes em churrascos, pelos quais há quem seja verdadeiramente louco, aos combustíveis Exxon, ou às livrarias Barnes & Noble – rede de enormes lojas que nunca deixo de entrar, super confortáveis e aconchegantes, com cafés e mesas de leitura, e milhares de livros distribuídos por estantes, que nos convidam a ficar. Falta ainda fazer referência à cadeia de lojas JCPenney localizadas em centros comerciais, que fazem as delícias duma sociedade absolutamente virada para o consumo, e para terminar o molho Tabasco, esse mesmo, o tal número um no mundo, que nos apimenta o prato, e nos traz colorido à vida!

Tuesday, May 26, 2009

Produto final

Há dias chegou-me às mãos um e-mail com o seguinte teor:
Numa pequena vila e estância balnear na costa sul de França nada de especial acontece. A crise sente-se. Toda a gente está carregada de dívidas e deve a toda a gente. Subitamente, um rico turista russo chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de 100 Euros sobre o balcão, pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar. O dono do hotel pega na nota de 100 Euros e corre ao fornecedor de carne a quem deve 100 Euros, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar 100 Euros que lhe devia há algum tempo. Este, por sua vez, corre ao criador de gado que lhe vendera os leitões e este por sua vez corre a entregar os 100 Euros a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito. Esta recebe os 100 Euros e corre ao hotel a quem devia 100 Euros pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes. Neste momento o russo rico desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100 Euros. Recebe o dinheiro e sai. Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescentado. Contudo, todos liquidaram as suas dívidas e estes elementos da pequena vila costeira encaram agora com optimismo o futuro.
Toda a historieta com um final feliz, como este, nos propicia um sorriso. Mas, falando a sério, urge corrigir hábitos, tentando perceber qual a relação que temos com o dinheiro, conseguindo rentabilizá-lo passando das muitas teorias à prática. Desde despertar consciências, até criar outras rotinas, tudo vale para que as renovadas regras prevaleçam após a crise. Aproveitar os seus aspectos negativos para novas oportunidades, eis afinal o grande desafio do momento.

Saturday, May 23, 2009

Palavras desdobradas


Ontem à noite Manuel Ribeiro propôs-nos um outro modo de pensar, através do seu livro Dicionário da Desconstrução. Trabalhando as palavras como se de um jogo se tratasse, uma a uma vai desconstruindo o seu lado fonológico, reaparecendo com novas combinações, em estreita articulação com a pintura, da qual o próprio não se consegue demarcar. A sua faceta delicada e subtil reflecte-se mais do que nunca na sua afirmação pela arte.

Vai meu olhar para além de mim
e ultrapassa os tempos do Sol,

Vai meu olhar para além de mim,
vai onde Ícaro não conseguiu.

Vai meu olhar e leva-me contigo
conhecer
os sonhos que ainda não sonhei.

Manuel Ribeiro

Thursday, May 21, 2009

Visão positiva


E porque o melhor da vida está dentro de nós, independentemente da crença de cada um, a prática da meditação é um processo mental com o objectivo de despertar consciências. Há tanto aspectos positivos quanto negativos nos nossos pensamentos, dotados de energia própria, e onde tudo começa. Ao eliminarmos os sentimentos que nos causam infelicidade desmontamos a ilusão em que tantas vezes vivemos, disciplinando a mente para reagir de uma forma mais realista. Este será sem dúvida um acto natural da alma, cuja auto-transformação encontra responsabilidade na mudança. Ao aceder ao meu potencial eterno estabeleço uma ligação com a fonte suprema baseada numa relação de amor. Livres e criativos podemos desenvolver este estado mental como meio de vida, para em conjunto nos deixarmos levar pelas asas do pensamento, permitindo que a paz, a doçura, a quietude, e a sabedoria nos preencha, em direcção à essência mais elevada. Om Shanti.

Tuesday, May 19, 2009

Santuários de Arte

A propósito do dia mundial dos museus ontem celebrado, recordei as várias visitas que durante uma vida fui fazendo, não só aos museus nacionais, como também pelo mundo fora. Lembro-me como se fosse hoje dos primeiros que visitei ainda em criança, como o Museu de Arte Antiga, e o não menos famoso Museu dos Coches, que recentemente revisitei. Contudo, ao longo dos anos tive oportunidade de me deslocar a museus no Texas, Londres, Glasgow, Roma, e ao Museu do Vaticano. Através das suas antiguidades, riquíssimas colecções, e obras únicas, cada um deles representa o melhor de nós próprios, pois o que nos é dado observar não é mais senão uma síntese daquilo que temos sido através dos tempos. Locais de reflexão, e de pura emoção estética, os museus representam viagens, onde olhamos o mundo em toda a sua multicultural diversidade. Por todo o interesse histórico e artístico que despertam, visitá-los é sem dúvida uma atitude cultural, e uma dádiva a não perder, pois, ao preservarmos todo este património, não só nos encontramos a nós próprios, como passamos a entender um futuro, que sem saber quem somos, simplesmente não poderia existir.

Aqui – como convém aos mortais –
Tudo é divino
E pintura embriaga mais
Que o próprio vinho

Museu de Sophia de Mello Breyner Andresen

Monday, May 18, 2009

Resgatando o passado

Donde vimos? E para onde vamos? Será que a morte é o desfecho final? Mantendo o espírito aberto participei este fim-de-semana num work shop, onde numa visão holística se tentou dar uma ideia da recolha de memórias, desta, ou de outras vidas anteriores, reconhecendo datas e locais, que nos permitem aceder directamente a todo um reservatório de informação armazenado no inconsciente. Assim, somos levados até onde necessário afim de alcançarmos a cura de um modo rápido e eficiente. A terapia de vidas passadas não faz mais senão recuar no tempo de uma forma consciente, eliminando obstáculos mentais, e ajudando-nos a libertar toda uma sobrecarga ancestral, que doravante nos tornará imunes a agressões exteriores. Ao recordar episódios obtemos uma nova perspectiva, dando à vida um outro significado que nos proporcionará bem-estar e paz interior. E, uma vez despertos para algo mais transcendente, e dotados de outra visão intemporal, livres do peso do passado, e de futuras preocupações, passamos unicamente a saborear o momento focados apenas no aqui e no agora.

Sou eu, assimétrico, artesão, anterior
- na infância, no inferno.
Desarrumado num retrato em ouro todo aberto.
A luz apoia-se nos planos de ar e água sobrepostos,
e entre eles desenvolvem-se
as matérias.
Trabalho um nome, o meu nome, a dor do sangue,
defronte
da massa inóspita ou da massa
mansa de outros nomes.
Vinhos enxameados, copos, facas, frutos opacos, leves
nomes,
escrevem-nos os dedos ferozes no papel
pouco, próximo. Tudo se purifica: o mundo
e o seu vocabulário. No retrato e no rosto, nas idades em que,
gramatical, carnalmente, me reparto.
Desequilibro-me para o lado onde trabalha a morte.
O lado em como isto se cala.

Herberto Helder

Saturday, May 16, 2009

De braços abertos

Assinalando o cinquentenário de Cristo-Rei recriaram-se os mesmos gestos de 1959, quando à beira rio o monumento foi inaugurado. Réplica de Cristo Redentor, com apenas 10 metros a menos de altura, contou então com um peditório nacional, no qual recordo ter contribuído em criança com uma pedrinha, no seguimento de uma promessa de gratidão e reconhecimento feita pelo episcopado, por Portugal ter sido poupado à II Guerra Mundial. Tal como ontem, as celebrações de hoje tiveram a presença da imagem peregrina de Fátima, que percorreu as ruas de Lisboa, seguindo depois o trajecto num cortejo de embarcações até ao lado de cá do Tejo.

Friday, May 15, 2009

Entre a Ciência e a Fé

Três anos após do Código da Vinci morre um Papa, 4 candidatos à sua sucessão são raptados, e um frasco de antimatéria com energia equivalente à de uma bomba nuclear é roubado. Além da tradição e dos rituais não faltam as ordens seculares, as cerimónias do conclave, teorias de conspiração, e uma série de enigmas para descodificar, quando uma irmandade secreta põe em causa a eleição do novo Papa. E tudo numa corrida contra o tempo. Este é mais um filme de mistério baseado no best-seller Anjos e Demónios de Dan Brown, dominado por uma tecnologia sofisticada, que nos prende até final. Percorrer Roma afora pela mão de Tom Hanks, e reviver a Piazza Navona, a Fontana di Trevi, e o Castelo Sant’ Angelo, nas margens do rio Tibre, só por si vale uma ida ao cinema.

Wednesday, May 13, 2009

Apelo à coragem

Para lá das diferenças, é a união que sobressai na afluência ao santuário. Há quem lhe chame o altar do mundo, mas para todos os efeitos é sem dúvida um dos lugares por excelência do encontro entre os homens e a Mãe. É lá que a encontramos, e onde está connosco junto de cada um dos doentes, ou peregrinos com fé. Em Fátima interrogamo-nos na procura interior, saciamo-nos de uma força espiritual, experimentamos momentos, e encontramos eco no espírito de solidariedade, e no dom da confiança como sinais de consolação. A sua ternura está presente no sofrimento de cada um. E, ao acolher-nos reforça-nos a esperança, devolvendo-nos a paz e a tranquilidade que invocamos.

Sunday, May 10, 2009

Privilegiando o bizarro

A sua poesia é intensa, e multiforme, quebrando qualquer lógica. A linguagem é particularmente difícil, e bastante complicada de desatar. Mas, uma vez que se mergulhe no seu universo, descobre-se-lhe o imaginário de cores dramáticas, e vibrantes, quase a parecer empurrar-nos para um futuro adensado de mistério. O que mais lhe aprecio é sem dúvida o domínio da palavra, o sentido rítmico que lhe imprime, a beleza da sonoridade, a inovação das ideias abstractas, e a dimensão emocional que sempre me desperta. E ainda o que dele haverá para descobrir. Verdadeiramente surpreendente Herberto Helder não é para ser lido baixinho, mas para com ele nos deixarmos arrastar para lugares distantes e intricados, que nos alimentem a paixão.
.
Uma pedra na cabeça da mulher; e na cabeça
da casa, uma luz violenta.
Anda um peixe comprido pela cabeça do gato.
A mulher senta-se no tempo e a minha melancolia
pensa-a, enquanto
o gato imagina a elevada casa.
Eternamente a mulher da mão passa a mão
pelo gato abstracto,
e a casa e o homem que eu vou ser
são minuto a minuto mais concretos.
.
A pedra cai na cabeça do gato e o peixe
gira e pára no sorriso
da mulher da luz. Dentro da casa,
o movimento obscuro destas coisas que não encontram
palavras.
Eu próprio caio na mulher, o gato
adormece na palavra, e a mulher toma
a palavra do gato no regaço.
Eu olho, e a mulher é a palavra.
.
Palavra abstracta que arrefeceu no gato
e agora aquece na carne
concreta da mulher.
A luz ilumina a pedra que está
na cabeça da casa, e o peixe corre cheio
de originalidade por dentro da palavra.
Se toco a mulher toco o gato, e é apaixonante.
Se toco (e é apaixonante)
a mulher, toco a pedra. Toco o gato e a pedra.
Toco a luz, ou a casa, ou o peixe, ou a palavra.
Toco a palavra apaixonante, se toco a mulher
com seu gato, pedra, peixe, luz e casa.
A mulher da palavra. A Palavra.
.
Deito-me e amo a mulher. E amo
o amor na mulher. E na palavra, o amor.
Amo com o amor do amor,
não só a palavra, mas
cada coisa que invade cada coisa
que invade a palavra.
E penso que sou total no minuto
em que a mulher eternamente
passa a mão da mulher no gato
dentro da casa.
.
No mundo tão concreto.

Saturday, May 9, 2009

Fins terapêuticos

Receptiva a novas experiências participei há dias numa sessão de esclarecimento sobre vidas passadas. E porque às vezes permanecemos aprisionados a repetidas energias negativas, a vida simplesmente deixa de fluir. Problemas mal resolvidos, traumas, e um intenso sofrimento perpetuando-se, simplesmente nos impede de ser felizes. Afinal todas as dificuldades com as quais nos deparamos se justificam pela lei de causa e efeito – ou Lei do Karma. No entanto, uma vez submetidos à terapia das vidas passadas passamos a ter acesso directo ao inconsciente, que a longo prazo nos liberta de todo uma carga emocional até aí associada a situações anteriores. Ir de encontro à verdadeira origem destas ocorrências desajustadas na personalidade de cada um é o que este processo holístico se propõe, com o intuito de nos proporcionar um melhor bem-estar, em harmonia com o universo.

Thursday, May 7, 2009

Coberta de sol


O futuro parece aqui algo distante. Qualquer indício é lento, suave como a brisa morna, e repleto de tranquilidade. A extensão da terra transmite-nos uma sensação de plena liberdade. Fechando os olhos retenho os gestos demorados, o perfume campestre, as pedras e a cal, e a luz ligada à cor. A importância dos silêncios troca-nos as voltas permitindo facilmente o nosso próprio reencontro, e deixando-nos a repensar. E, como dizia Torga referindo-se ao Alentejo, onde o tempo caminha, sem chegar.

Wednesday, May 6, 2009

Culto e tradição


Em Portalegre é assim todos os anos, no primeiro domingo de Maio, e este não foi excepção. Em honra de Nosso Senhor dos Aflitos organiza-se uma romaria equestre em sintonia com a natureza, por campos fora cobertos de alecrim, abraçados pela Serra de S. Mamede lá no fim do horizonte. À mercê do divino, fixei momentos sob um diferente contemplar da tranquila paisagem alentejana

Tuesday, May 5, 2009

Passagem obrigatória

Mudando o rumo, deslizei até ao Alentejo, sob a brisa quente, e a cada novo olhar captei esgazeada a imensidão das planícies, e o respirar da terra ensolarada, redescobrindo o meu país.

Moreninha alentejana,
quem te fez, morena, assim?
- Foi o sol da Primavera
que caía sobre mim.

Que caía sobre mim,
que andava a ceifar o trigo.
- Moreninha alentejana,
por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?
Por que não casas com ela?
- Quem te fez, morena, assim?
- Foi o sol da Primavera.

Canção Popular do Alentejo

Saturday, May 2, 2009

Expressar de alma

Foi ao som quente de ritmos africanos, que ontem teve lugar uma missa deveras original na Igreja de São José. Não faltaram batuques, e movimentos de ancas de visível sensualidade em trajes tradicionais, além de uma conjugação de vozes em clima entusiástico, apesar do carácter melancólico de algumas mornas associadas à saudade. Duas horas pareceram breves instantes para os presentes às centenas, sentindo-me transportar de novo para aquelas ilhas atlânticas, de extensas praias, de águas cristalinas e areia fina, que guardo na memória de outras viagens. Este caloroso encontro com especial sabor a Cabo Verde veio reforçar a fraternidade entre povos, e provar que a distância entre uns e outros é simplesmente nula.