Sunday, June 30, 2013

Saudade


 
O amor nos condena:
 demoras
 mesmo quando chegas antes.
 Porque não é no tempo que eu te espero.

 Espero-te antes de haver vida
 e és tu quem faz nascer os dias.

 Quando chegas
 já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

 Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Mia Couto, in idades cidades divindades

Saturday, June 29, 2013

Visões







Crescem selvagens, em várias direcções, cobertos de espinhos, de onde também surgem flores deslumbrantes com pétalas amarelas ou alaranjadas. No meu caminho dos cactos, os frutos, quando maduros, são alongados e carnudos, apresentando cor roxa de polpa refrescante e sabor exótico aos quais se atribuem não só propriedades curativas como afrodisíacas! Aqui, nas mais quentes e áridas regiões, onde eu e o Rico nos encontramos, os cactos (de altura média de uma pessoa) têm servido, até aos nossos dias, para demarcar os terrenos uns dos outros, e nos deliciar com todo o seu colorido e magia.

Friday, June 28, 2013

Méritos do elenco


Thursday, June 27, 2013

Se te pedirem

   Se te pedirem, amor, se te pedirem
 que contes a velha história
 da nau que partiu
 e se perdeu,
 não contes, amor, não contes
 que o mar és tu
 e a nau sou eu. 

Fernanddo Namora

Wednesday, June 26, 2013

Pedaço de vida

Vulgarmente designada por orquídea selvagem, a anacamptis pyramidalis não se restringe a um maravilhoso colorido arroxeado. Ao seguir-lhe o rasto pelo ligeiro aroma adocicado, observo como a fragilidade da sua singular forma de pirâmide, se projecta num jogo de imagens de sonho, na lentidão do tempo.

Tuesday, June 25, 2013

Experiência gastronómica




Visualmente muito apelativa, a cozinha japonesa não se limita ao sushi. Elaborada com arte, sofisticação e requinte, desperta-nos os sentidos mais adormecidos, através das suas cores, aromas e delicados sabores. A não perder.

Monday, June 24, 2013

O bafo no rosto

Quero um erro de gramática que refaça
na metade luminosa o poema do mundo,
e que Deus mantenha oculto na metade nocturna
o erro do erro:
alta voltagem do ouro,
bafo no rosto.


Herberto Helder in Ofício Cantante - Poesia Completa, 2009


Sunday, June 23, 2013

A nu

Irá surgir-nos diferente, de uma beleza inusitada, quebrando a monotonia de outras noites. Tantas vezes esquecida, entre a luz e as trevas a sua proximidade será maior, e iremos redescobri-la, através de mil e um olhares que, sobre ela incidirão lançando sobre o mar a sua gigantesca sombra.

Saturday, June 22, 2013

Aprender a meditar







A energia da alma está relacionada com os nossos valores originais. É ela que nos guia e dá qualidade aos nossos pensamentos. Para que eu me possa recolher é crucial entender que não preciso ficar apegado aos acontecimentos rotineiros ou às marés da vida. A meditação ajuda-me a construir esse poder. Aprendo a ficar mais quieto. Desenvolvo uma disciplina interior. Distancio-me da influência das situações externas que me prendem nas teias dos sentimentos e emoções. Ao alcançar esta dimensão interna, desfrutarei de liberdade e da verdadeira essência do ser.

 Brahma Kumaris

Friday, June 21, 2013

Momento de pausa


Thursday, June 20, 2013

Todos os sonhos

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Fernando Pessoa in Tabacaria


Wednesday, June 19, 2013

À tona de água

Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.

Luís Miguel Nava

Tuesday, June 18, 2013

Noite de jazz

Para atrasar a morte vamos abrir a noite
com música de jazz   Percorrê-la depois
num barco de borracha   Celebrar o segredo
Enforcar a memória   Descobrir de repente
uma ilha que nasce dentro do teu vestido
Chamar-lhe Madrugada   Adormecer contigo


David Mourão-Ferreira

Monday, June 17, 2013

Sunday, June 16, 2013

Feitas as contas

Mais do que um convívio, um dia de aniversário é sempre um trunfo. Com sorte, pensamos, superaremos mais um ano, que tal como este se tornará alvo de comparações. Entre vários registos de reflexão, por vezes, fala mais alto a fascinante sequência de eventos, antigos sentimentos e emoções, e memórias de ao longo dos tempos. A meio caminho, a dinâmica vai dissipando fulgor, aquela frescura desarmante perde expressão, mas quando julgamos que tanto o mundo como nós próprios nos começamos a despedaçar, debruçando-nos sobre nós mesmos, há como que uma reconstrução a partir deste diálogo com a eternidade. Superando erros, tomo consciência que cheguei aqui! Mais cerebral, a nova realidade apresenta-se mais intensa do que nunca, e o que me move e inspira é um novo olhar em articulação com o que me rodeia.

Saturday, June 15, 2013

A malva-de-três-meses


Saltam à vista, exactamente, pela pálida cor rosada de perceptíveis e vistosas risquinhas. Nascem espontaneamente, algumas rasteiras, outras mais ousadas, trepando e enrolando-se cheias de subtileza, aqui e ali, nos campos e nas bermas dos caminhos que, na companhia do Rico continuo a percorrer com prazer.

Friday, June 14, 2013

Na imaginação das aves

Por ti desço até ao fundo da noite,
desenraízo o tempo, culmino numa estrela,
vivo na imaginação de todas as aves
e acendo o futuro, num gesto antecipado.


Albano Martins in O Futuro em Anos-Luz

Thursday, June 13, 2013

Plano de fuga

A fada oferecendo-se para a ajudar, recomendou-lhe que fosse ao encontro do Mágico de Oz. Dorothy calçou os sapatos encantados, que pertenciam à Fada Má do Leste, e seguiu o caminho de tijolos amarelos que a conduziriam até à Cidade das Esmeraldas, onde morava o Mágico de Oz, levando o Totó consigo.

O mágico de Oz - história infantil

Wednesday, June 12, 2013

Noite de Sto. António

Santo António, Santo António
Que bonito que tu és
Vou comprar-te um manjerico
E coloca-lo a teus pés!

É noite de Santo António
Estalam foguetes no ar;
Põe o manjerico á janela
E vem para a rua dançar.

Santo António, Santo querido,
ajuda-me a bem casar
preciso de um bom marido
que me leve até ao altar!

Menina se queres casar
Reza ao Santo Antoninho
Dá-lhe um arco a brilhar
Enfeita-lh’o seu caminho.

Na noite de Santo António
Vai haver grande folia
Os pares de namorados
Vão dançar até ser dia.

quadras populares 

Tuesday, June 11, 2013

Os monstros

Eu tenho a intuição, Aramis, de que os monstros
são as tentativas mais puras do Universo.
"Olha-os e não os mates."


Maria Gabriela LLansol in O raio sobre o lápis - Lisboa: Europália, 1991

Monday, June 10, 2013

Em declínio



Entre a realidade que gostaríamos que existisse, e o cenário actual: mal-me-quer. Os ventos varrem a poeira por entre as ervas secas: mal-me-quer. Um malmequer, qualquer, tremia e murmurava, quando lhe estendo a mão: bem-me-quer. O futuro passa pela solidariedade.
Na ausência de horizontes: mal-me-quer. O programa era medíocre, destruiu postos de trabalho e esgotou-se: mal-me-quer, mal-me-quer. Regredimos, em ambiente de contestação.

A Europa está fragmentada, a nossa soberania tutelada: mal-me-quer, mal-me-quer, mal-me-quer. Haverá outra forma de pensar o país? Bem-me-quer, bem-me-quer, porque nada sobra dos discursos face às expectativas. Nem acção, nem a real percepção dos problemas, nem sincronia entre os que governam e os que são governados. Mal-me-quer.

Sunday, June 9, 2013

Cumplicidades


Saturday, June 8, 2013

Dentro dos meus olhos

Se terminar este poema, partirás. Depois da
mordedura vã do meu silêncio e das pedras
que te atirei ao coração, a poesia é a última
coincidência que nos une. Enquanto escrevo
este poema, a mesma neblina que impede a
memória límpida dos sonhos e confunde os
navios ao retalharem um mar desconhecido

está dentro dos meus olhos – porque é difícil
olhar para ti neste preciso instante sabendo que
não estarias aqui se eu não escrevesse. E eu, que

continuo a amar-te em surdina com essa inércia
sóbria das montanhas, ofereço-te palavras, e não
beijos, porque o poema é o único refúgio onde
podemos repetir o lume dos antigos encontros.

Mas agora pedes-me que pare, que fique por aqui,
que apenas escreva até ao fim mais esta página
(que, como as outras, será somente tua – esse

beijo que já não desejas dos meus lábios). E eu, que
aprendi tudo sobre as despedidas porque a saudade
nos faz adultos para sempre, sei que te perderei

em qualquer caso: se terminar o poema, partirás;
e, no entanto, se o interromper, desvanecer-se-á
a última coincidência que nos une.


Maria do Rosário Pedreira

Friday, June 7, 2013

O desejo da velocidade

O que, à partida, parecia um curto percurso é, apesar de tudo, um exercício de aproximação. Registo-o, à deriva, entre as fissuras das rochas, ou no topo de um pauzinho, preciso e belo, cheio de segurança e serenidade, em escorregadia fluidez. Vindo de um outro horizonte, parece querer atravessar a geografia invisível, com os pauzinhos ao sol. Apesar de lento, num ápice, configura um caminho, movendo-se com esforço, em muitos campos e em diversas direcções, criando a ilusão de um movimento intenso. 

Thursday, June 6, 2013

A lenda

Ainda não fui, mas o tema, deste ano, do Festival Internacional de Esculturas na Areia, em Pêra – o maior do género em todo o mundo e único na Península Ibérica é a música! E, quem, senão a mais famosa estrela de rock and roll para homenagear!? Porém, visitei já, em 2004, Graceland - a sua residência oficial, de 1957 a 1977, quando morreu, em Memphis, Tennessee. No melhor estilo colonial americano, a mansão de Graceland inserida num espaço de 17 hectares, vai muito para além do simples kitsch, tornando-se num verdadeiro santuário visitado diariamente por uma verdadeira legião de fãs.

Wednesday, June 5, 2013

Botão-azul


De aparência leve, a sua presença é bem ilustrativa nos diferentes cenários do meu quotidiano, pela forma como se movimentam, ao sabor da brisa, ganhando elegância, entre as pedras, ou à beira dos caminhos, que percorro. 

Tuesday, June 4, 2013

Coisas mudas

Dá-me algo mais que silêncio ou doçura
Algo que tenhas e não saibas
Não quero dádivas raras
Dá-me uma pedra.

Não fiques imóvel fitando-me
como se quisesses dizer
que há coisas mudas
ocultas no que se diz

Dá-me algo lento e fino
como uma faca nas costas
E se nada tens para dar-me
dá-me tudo o que te falta!

Herberto Helder

Monday, June 3, 2013

Pequenos Gigantes





No âmbito das comemorações do dia mundial da criança, teve lugar no passado sábado dia 1 de Junho, a apresentação da obra «Os pequenos gigantes» dos alunos das escolas do concelho de Albufeira, seguido de uma pequena dramatização da adaptação do conto de António Torrado «O pinto Pintão».