Wednesday, April 30, 2014

O regresso

Dorothy e os seus amigos continuaram a caminhar, até que de repente foram ao encontro da boa fada do sul.
- «Encontrámos o Mágico de Oz que nos disse que me podia ajudar a voltar para casa na pradaria do Kansas. Como faço agora?» Perguntou-lhe Dorothy.
- «Ora...linda menina»! Respondeu-lhe a fada. «Os sapatinhos que a boa fada do Norte te deu são mágicos. Bate três vezes no chão e faz o teu pedido!» Respondeu-lhe ela.
Assim, começou um vento muito forte...que levou Dorothy de volta a casa.


L. Frank Baun in O Maravilhoso Mágico de Oz

Tuesday, April 29, 2014

O pequeno grande papel

A dança parecia ser a sua única linguagem. Entre um passo e outro, oscilava, leve e ágil, embora carregada de detalhes. O improviso, pontuado pelo movimento dos membros, a visível articulação dos braços, e a naturalidade dos gestos, revelavam o seu ímpeto mais criativo. Entre o delírio e a fantasia, sem sequer pestanejar, poética e, em simultâneo, tão intensa quanto impetuosa, demonstrava-nos, num tempo de passagem, o seu lado mais genial.

Monday, April 28, 2014

Como um sufôco

 ata e desata os nós aos dias meteorológicos, dias orais,
 manuais,
 irredimíveis,
 mais que sangue agudo da mão à lingua,
 que fruta acerba desmanchada

 entredentes,
 oh trabalha-me, intuito
 lírico,
 por fora esses dias manuais,
 por dentro troca tudo meu tão certo secretário assim
 como um sufôco,
 ou isso


Herberto Helder  in «Ofício Cantante» 23.11.1930

Sunday, April 27, 2014

É menina!






A proximidade da chegada da bebé Yara foi motivo para homenagear a Cláudia que, este domingo, organizou em sua casa, na praia de São Rafael, uma festa para a família e amigos. Muitos balões cor-de-rosa decoraram o espaço, e um delicioso lanche foi saboreado no jardim, numa tarde cheia de sol e boa disposição.

Saturday, April 26, 2014

Total entrega


Friday, April 25, 2014

A liberdade dos passos

Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.


Miguel Torga

Thursday, April 24, 2014

A morrer devagar




Meu amor, meu amor,
meu corpo em movimento,
minha voz à procura
do seu próprio lamento
Meu limão de amargura,
meu punhal a crescer,
nós parámos o tempo,
não sabemos morrer
E nascemos, nascemos
do nosso entristecer
Meu amor, meu amor,
meu pássaro cinzento
a chorar a lonjura
do nosso afastamento
Meu amor, meu amor,
meu nó e sofrimento,
minha mó de ternura,
minha nau de tormento
Este mar não tem cura,
este céu não tem ar,
nós parámos o vento,
não sabemos nadar
E morremos, morremos
devagar, devagar
fado de Amália Rodrigues do álbum Com que voz de 1968
letra de: José Carlos Ary dos Santos
música: Alain Oulman

Wednesday, April 23, 2014

A incógnita

"É sempre hora do chá, e nós não temos tempo de lavar as chávenas  entre um chá e outro."
"É por isso que vão andando de lugar em lugar à volta da mesa, não é?”, perguntou Alice.
"Exactamente", "à medida que as coisas vão ficando sujas."
"Mas, e o que é que acontece quando chegam ao ponto de partida outra vez?", Alice aventurou-se a perguntar.

Lewis Carroll in Alice no País da Maravilhas

Tuesday, April 22, 2014

Sem nada por dentro


Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se 
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntar o que significam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor 
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.

Nuno Júdica in A matéria do poema (2008)

Monday, April 21, 2014

Num tempo curto

Umas atrás das outras, as flores que vou colhendo, em lugares de sonho, e distribuo ou coloco numa jarra a um canto da janela, traduzem a temporalidade da vida.
 Foco de atenção, a felicidade brilha quando a banalidade de um desejo me proporciona simultaneamente plena satisfação, como tão-somente o que se vai perdendo pelo caminho. 

Sunday, April 20, 2014

Proezas



Neste outro lugar, as flores e as folhas baloiçam soltas, apoiadas pela estrutura da rede, rumo ao céu. O sentido de aventura, não lhes afecta a clarividência estética ou a teatralidade da interpretação. Suspensas e bem delineadas, sacodem as corolas à passagem da brisa, realizando o maior sonho de dimensão artística. Nada que não tenha sido já detectado, então e depois, acrescentando ao caminho a expressividade encantatória que me sustenta os dias. 

Saturday, April 19, 2014

Gesto hábil


Friday, April 18, 2014

Os sinais do desejo

Estende um pouco mais a mão
 recolhe um a um os sinais do desejo
  fogo de abelhas o sexo
 espera a insurreição da cal
 a espessa ondulação do vento
 é sobre o corpo a própria exaltação
morrer nos flancos do amor é um dizer
 repara como brilham os limoeiros.


Eugénio de Andrade in Véspera da Água -  Assírio & Alvim

Thursday, April 17, 2014

Em expansão

Neste novo ciclo fluido e delicado, o ovo simboliza a renovação da vida e a vitória sobre a morte. Em compasso com o mundo, há toda uma noção de estrutura de uma vitalidade que, nos atravessa, deixando marcas. Acontecera antes e voltará a acontecer como forma de se exprimir, encorajando-nos a percorrer mais territórios sem nunca deixar de nos surpreender.

Wednesday, April 16, 2014

De longe e de leve

Basta-me um pequeno gesto,
 feito de longe e de leve,
 para que venhas comigo
 e eu para sempre te leve...


Cecília Meireles

Tuesday, April 15, 2014

Território sonhado

Ninguém, em verdade, viaja para uma ilha. As ilhas existem dentro de nós, como um território sonhado, como um pedaço do nosso passado que se soltou do tempo.

Mia Couto in Pensageiro frequente - Caminho, 2010

Monday, April 14, 2014

Não fujas

Deito-me cedo contigo o meu sono é leve para a liberdade acordas-
-me só de pensares nela. As casas e os bichos apoiam-se em ti. Não fujas não
te mexas: vou fixar-te para sempre nessa posição.

Luiza Neto Jorge in Difícil Poema de Amor – Poesia - Assírio & Alvim - 2ª edição - 2001 

Sunday, April 13, 2014

Uma questão de atitude





E, porque a sua atitude estará de acordo com os seus pensamentos, seja um instrumento para melhorar o mundo. Não importa em que circunstâncias se encontra ou como se sentem as pessoas à sua volta, os seus sentimentos e a sua atitude devem ser sempre positivos. Ao procurar criar pensamentos sobre a minha verdadeira natureza, através de um minúsculo ponto, no centro da testa, eu ganho força e sinto-me em paz. Há luz no meu exterior. Estou vivo, vibrante, brilhante, divino.

Brahma Kumaris

Saturday, April 12, 2014

Razões sombrias


Friday, April 11, 2014

Motivo inspirador



De certa maneira, com o avançar dos dias, a paisagem transforma-se numa montra impressionante. Calcorreando caminhos, sem fronteiras definidas, cada passo tem o condão de nos surpreender. Por vezes, somos interceptados pelo amarelo intenso das giestas que, iluminam uma casinha envolvida em magia. Tudo somado, é uma celebração à vida em pequenas histórias enredadas umas nas outras. São elas que, nos marcam o olhar, numa experiência que permanece uma verdadeira aventura. É nesta coexistência que desenvolvemos os sentidos recuperando alguma esperança.

Thursday, April 10, 2014

Um mês ou um século

O amor é um acordo que nos escapa
premissas traficadas sem certeza noite fora
em casas devolutas, em temporais, em corpos que não o nosso
aluviões para tentar de forma contínua
num sofrimento corrosivo que ninguém consegue
não chamar também de alegria

Pensamos que quando chegasse as nossas vidas acelerariam
mas nem sempre é assim:
há emoções que nos aceleram
outras que nos abrandam

Um mês ou um século mais tarde
movem-se ainda,
tão subtilmente que não se notam

José Tolentino Mendonça, in Estação Central, Assírio & Alvim, 2012


Wednesday, April 9, 2014

A manhã

Deixei uma ave me amanhecer. E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?


Manoel de Barros

Tuesday, April 8, 2014

Realidades distantes

Num diálogo com o tempo, deixava-se, frequentemente, levar pela memória, sem tirar nem pôr. Na sua relação com o mundo, em que pouca atenção lhe era prestada, em última instância o Boby era quem, dia após dia, durante a sua infância, participava nas suas brincadeiras recriando momentos de afecto. As coisas eram partilhadas e, a cada obstáculo era encontrada a solução feliz. Tudo assim acontecia, enlaçada à sua própria interioridade, que jamais se esgotou, fruto do mais puro instinto de sobrevivência.

Monday, April 7, 2014

Abril a um canto da noite



 Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos  de  cada lado.
 Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando  os  olhos,
 Com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
 Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
 dentro do fogo.
 -Temos um talento doloroso e obscuro.
 Construímos um lugar de silêncio.
 De paixão.

 Mulheres correndo, correndo pela noite.

 Mulheres correndo, correndo pela noite.
 O som de mulheres correndo, lembradas, correndo
 como éguas abertas, como sonoras
 corredoras magnólias.
 Mulheres pela noite dentro levando nas patas
 grandiosos lenços brancos.
 Correndo com lenços muito vivos nas patas
 pela noite dentro.
 Lenços vivos com suas patas abertas
 como magnólias
 correndo, lembradas, patas pela noite
 viva. Levando, lembrando, correndo.

 É o som delas batendo como estrelas
 nas portas. O céu por cima, as crinas negras
 batendo: é o som delas. Lembradas,
 correndo. Estrelas. Eu ouço: passam, lembrando.
 As grandiosas patas brancas abertas no som,
 à porta, com o céu lembrando.
 Crinas correndo pela noite, lenços vivos
 batendo como magnólias levadas pela noite,
 abertas, correndo, lembrando.

 De repente, as letras. O rosto sufocado como
 se fosse abril num canto da noite.
 O rosto no meio das letras, sufocado a um canto,
 de repente.
 Mulheres correndo, de porta em porta, com lenços
 sufocados, lembrando letras, levando
 lenços, letras - nas patas
 negras, grandiosamente abertas.
 Como se fosse abril, sufocadas no meio.
 Era o som delas, como se fosse abril a um canto
 da noite, lembrando.

 Ouço: são elas que partem. E levam
 o sangue cheio de letras, as patas floridas
 sobre a cabeça, correndo, pensando.
 Atiram-se para a noite com o sonho terrível
 de um lenço vivo.
 E vão batendo com as estrelas nas portas. E sobre
 a cabeça branca, as patas lembrando
 pela noite dentro.
 O rosto sufocado, o som abrindo, muito
 lembrado. E a cabeça correndo, e eu ouço:
 são elas que partem, pensando.
                                                                                   
 Então acordo de dentro e, lembrando, fico
 de lado. E ouço correr, levando
 grandiosos lenços contra a noite com estrelas
 batendo nas patas

 no meio das letras, o rosto sufocado
 correndo pelas portas grandiosas, as crinas
 brancas batendo. E eu ouço: é o som delas
 com as patas negras, com as magnólias negras
 contra a noite.


 Herberto Helder

Sunday, April 6, 2014

Final da história

Num breve instante, soprou-o, fugidio e com doçura, como se o apelo fosse o prazer de o voltar a ver.

Saturday, April 5, 2014

Às voltas


Friday, April 4, 2014

Por cada louvor

De volta aos campos, ao abrir das portas de um novo dia, começo a imaginar o que seria se, há um ano atrás, a cirurgia que submeti à vista não tivesse sido tão bem sucedida. Estar no lugar certo, rodeada de quem recebi tanto apoio, quando chegou a hora errada, tornou-se uma data marcante que, sem o saber, alterou toda a perspectiva duma vida. Quando nos vemos privados do que um dia dávamos por adquirido, a oportunidade de poder continuar a observar o que nos rodeia, é qualquer coisa de inatingível. Atenta à Primavera, e ao impacto da profundidade e relevo, temporariamente negados como parte da experiência, foi uma óptima ocasião para numa descoberta interpretativa sentir uma sedução correspondida.

Thursday, April 3, 2014

A única palavra

Sim, dizias tu, mas em seguida
corrigiste:
talvez.
Esta é a única palavra
que não tem casa.
Que mora
no intervalo
entre o som e o silêncio


Albano Martins

Wednesday, April 2, 2014

Carências

Um galo procurava alimento no terreiro para si e suas galinhas e encontrou uma pedra preciosa de grande valor e beleza. Se tivesse sido o seu dono a descobri-la, certamente, iria saltar de alegria, no entanto, a ele tal pérola de nada lhe servia. Teria preferido muito mais achar um simples grão de milho que todas as jóias do mundo!

Moral da história: A necessidade de cada um é o que determina o real valor das coisas.


Esopo in O Galo e a Pedra Preciosa, fábula

Tuesday, April 1, 2014

Um lugar de distância

Musicalmente criativa, como a própria fazia questão de afirmar, pede-lhe que a siga no imaginário. Um simples movimento, em tempo real, a partir de uma recolocação dos corpos permite-lhe, vertiginosamente, rodopiar. Nesta estratégia, face a face com a ilusão, o par move-se com notável fluidez, apesar da chuva conciliável com a execução de um sonho mais forte que a realidade.