Sunday, May 4, 2014

As estrelas de oiro

«Certa manhã acordei sozinho em casa. Acordei a chorar.- Ó mãe, mãe... – Mas a mãe não vinha. Não havia mãe. Havia só a porta fechada. – Ó mãe, mãe... – E a casa deserta. Pelas frinchas largas da porta via a manhã lá fora. Era uma manhã de sol quente, talvez de Julho, talvez de Agosto. Devia haver medas de palha na eira em frente. Mas os meus olhos mal viam, estavam rasos de água e de angústia. – Ó mãe, mãe... – E de repente, na manhã clara, começaram a cair estrelas pequeninas, estrelas verdes, vermelhas, estrelas de oiro. As lágrimas caíam-me pela cara.- Ó mãe, mãe... – O nariz esmagado contra a porta, os olhos muito abertos, vendo através da frinchas as estrelas caindo, umas atrás das outras. – Ó mãe, mãe....»


Eugénio de Andrade in Os Amantes sem Dinheiro (1950)

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